Liberdade de pensamento na escola: é possível ensinar o que não se vê?

22 de julho de 2025


Trabalhar a liberdade de pensamento na escola não é apenas encorajar a fala, mas sustentar um espaço onde a divergência seja legítima, respeitosa e educativa. E isso, convenhamos, nem sempre é simples.

Se você já se viu diante de uma sala silenciosa quando propôs uma pergunta aberta, ou ficou em dúvida sobre como conduzir um debate com opiniões sensíveis, não está sozinho. Promover o pensamento crítico em sala exige mediação, escuta, repertório e, muitas vezes, coragem para não ter o controle de tudo.

Por que estimular a liberdade de pensamento ainda é um desafio?

Porque a escola, historicamente, foi construída sobre a lógica da resposta certa. Mas o mundo mudou. E a educação, também.

Hoje, o estudante precisa aprender a lidar com a complexidade, com pontos de vista distintos, com decisões éticas. Isso só é possível se ele tiver a chance de pensar com autonomia e não apenas repetir conteúdos. A liberdade de pensamento na escola se torna, então, uma ferramenta formativa tão essencial quanto qualquer disciplina do currículo.

Mas aí vem a dúvida: como fazer isso com intencionalidade, sem perder o fio pedagógico e sem cair em discussões improdutivas?

O papel do currículo e dos materiais nesse processo

Nas últimas reformas do Ensino Médio, houve um movimento claro de valorização das competências socioemocionais e do pensamento crítico. O PNLD 2026 reflete isso: com a divisão entre livros por componente curricular e livros integradores, há mais espaço para propostas que dialoguem com temas contemporâneos, desde que conectadas a uma boa mediação docente.

Um exemplo interessante vem do livro Interação Sociologia para jovens do século XXI, obra aprovada no PNLD Esnino Médio. A proposta parte de temas atuais — como cultura digital, juventude e diversidade — e os utiliza como porta de entrada para conceitos sociológicos fundamentais. Em vez de trazer respostas fechadas, o material convida à análise, à escuta e à construção conjunta de sentido.

O professor, nesse contexto, não é apenas transmissor de conteúdo, mas condutor de um percurso reflexivo. E isso muda tudo.

Como criar um ambiente onde o pensamento possa circular?

Você já faz isso em muitas práticas do dia a dia: ao propor uma pergunta e realmente escutar as respostas, ao permitir que opiniões divergentes convivam sem pressa de conclusão, ao relacionar o conteúdo à realidade dos alunos.

Mas se quiser ir além, aqui vão algumas sugestões para aprofundar o exercício da liberdade de pensamento na escola:

  • Estabeleça combinados de escuta e fala no início do ano. Criar segurança é o primeiro passo para o pensamento circular.
  • Use dilemas éticos simples e contextualizados como ponto de partida. O livro de Sociologia citado acima traz bons exemplos — e você pode adaptar conforme o perfil da turma.
  • Intercale exposições com perguntas abertas, sem resposta esperada. Dê tempo para o silêncio. Às vezes, o melhor pensamento vem depois da aula.
  • Valorize os diferentes repertórios culturais dos alunos. Um exemplo, uma história vivida, uma música ou um meme pode ser ponto de partida legítimo para discussão.
  • Traga autores diversos, visões múltiplas, leituras laterais. O conteúdo ganha profundidade quando deixa de ser uníssono.

Pensar junto é arriscado e por isso é tão valioso

Você não precisa transformar sua sala de aula em um tribunal de opiniões. O que está em jogo aqui não é “quem tem razão”, mas como se constrói uma ideia em coletivo.

Promover a liberdade de pensamento na escola é criar espaço para que seus alunos, e você também, possam errar, refinar, mudar de ideia. É abrir mão do controle absoluto em troca de algo maior: a formação de sujeitos que pensam com autonomia e responsabilidade.

Seja qual for sua disciplina, essa é uma das tarefas mais importantes da docência. E você está mais preparado para ela do que imagina.

Editora do Brasil S/A
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